Números da Saúde: Entre Incrementos e Inconsistências
Em meio ao cenário nacional de saúde, um pequeno município parece se destacar pelos números que desafiam a média. Com apenas 30 mil habitantes, esta localidade abriga um sistema de saúde que recebeu um influxo extraordinário de recursos nos últimos anos, muito além do que é comumente observado em prefeituras de porte semelhante pelo Brasil afora.
Desde o início da gestão do presidente Jair Bolsonaro, os cofres municipais foram inundados com uma soma considerável: R$ 100 milhões provenientes de emendas parlamentares, popularmente conhecidas como “orçamento secreto”. Tais emendas foram requisitadas tanto pela prefeita local quanto pelo então deputado Juscelino Filho, dando ao município uma capacidade financeira incomum para sua escala. Adicionalmente, a bancada do Maranhão destinou R$ 32 milhões, enquanto Juscelino canalizou mais R$ 16 milhões em emendas individuais.
Os números impressionam ainda mais quando se observa a quantidade de consultas e procedimentos realizados. De acordo com dados verificados pelo UOL, o salto na procura por serviços de saúde é notável. Por exemplo, o número de consultas de profissionais de nível superior na atenção especializada, excetuando médicos, disparou de 55,4 mil em 2018 para 541 mil em 2019, alcançando um pico de 613,5 mil em 2020. Esse aumento significativo pode sugerir uma demanda reprimida, mas levanta questionamentos sobre a qualidade e a necessidade real desses serviços.
No entanto, ao analisar mais detalhadamente esses dados, surgem inconsistências que lançam dúvidas sobre a legitimidade desses números. Em 2019, por exemplo, o registro de 87,7 mil consultas odontológicas e 98 mil consultas pré-natais chama a atenção. Considerando a população e as estimativas de frequência desses serviços, esses números sugerem uma taxa de utilização que ultrapassa os limites plausíveis. Com três visitas ao dentista por ano por pessoa e mais de onze consultas pré-natais para cada mulher em idade fértil, os dados levantam sérias questões sobre possíveis distorções ou irregularidades na contabilidade da saúde municipal.
Diante desse panorama, é evidente que há muito mais do que números em jogo. A transparência e a eficiência na aplicação desses recursos tornam-se questões cruciais não apenas para garantir a qualidade dos serviços de saúde, mas também para preservar a integridade e a confiança nas instituições públicas.